sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

::: A representação da política da representação :::

Na "sociedade do espetáculo", para relembrarmos o conceito do filósofo Guy Debord, a política também se torna espetáculo. Eis um tempo em que a política, incapaz de transformar a realidade, torna-se imagem ideal desta transformação que nunca acontece realmente. Não importa o que é, mas o que parece ser.

As imagens e os discursos não devem tornar visíveis a decadência que são obrigados a abordar e, mobilizados através de uma narrativa moderna, modulados por dispositivos computacionais de edição, operam uma retórica de progresso abstrato, sobrepõem a crueza do real com uma aparência de realidade a fim de convencer as massas silenciadas por anos e anos de espetáculo generalizado.
A catástrofe ecológica não deve ser percebida em sua gravidade real, mas apenas como imagem fantasmagórica veloz a ser esquecida tão logo o próximo assunto for também rapidamente abordado.
O problema do desemprego não deve ser problematizado a fundo desde suas causas, mas ao desempregado deve ser dada a esperança de uma vaga em um local de trabalho que ainda nem concretamente existe.
A gravidade da pandemia e os milhares de mortos não devem fazer as pessoas pensarem sobre o risco que correm nem muito menos pensarem sobre a própria morte. A mensagem que circula acima dos 230 mil caixões de brasileiros é que apesar dos cadáveres importam as cores de uma economia que no final da contas mantém mais de 14 milhões de brasileiros na miséria absoluta.
Porém, por alguma força subsistente do real, algo vaza pelas brechas da estetização da política: e a decadência velada se revela. A verdade é horrível, mas a mentira mais ainda.
Nós sabemos quem vocês são e o que representam.

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