domingo, 13 de fevereiro de 2022

Em que ano estamos?

2022 é um ano especial para a cultura e para as artes no Brasil. No dia 13 de fevereiro a "Semana de Arte Moderna" de 1922 fez 100 anos. Reunindo escritores, poetas (Oswald de Andrade, Mário de Andrade), pintores ( Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro), escultores (Victor Brecheret) e músicos, o evento rompeu com padrões estéticos e institucionais vigentes, traçando as linhas fundamentais da arte brasileira ao longo do século XX. 

Em Paraisópolis, nenhum evento (nem mesmo virtual) sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna foi programado pelo setor responsável pela cultura. A política cultural no município parece estacionada no período pré-moderno mesmo com as louváveis tentativas de dinamizar o cenário protagonizadas, na primeira e segunda décadas deste século, por grupos como Clube do Trem e Coletivo da Esquina. 

Se, por um lado, a dimensão institucional não consegue avançar em termos de política cultural, por outro lado os artistas paraisopolenses, bem como os artistas aqui radicados, se desdobram e procuram, num cenário de escassez de apoios, editais e eventos públicos, manter viva a criação artística e oxigenar o ambiente cultural. 

Em 2021, assim como em 2020, diversas manifestações independentes foram veiculadas pelos artistas paraisopolenses em seus canais na Internet, rede esta que, aliás, tem sido o principal canal de comunicação entre os criadores e o público em Paraisópolis. 

Hoje, com a descaracterização e enfraquecimento do Departamento de Cultura, fundido com Turismo e Lazer, ficou  evidente a total falta de um projeto cultural para a cidade. Soma-se a isso a subutilização de espaços fundamentais como o Casarão das Irmãs Carvalho e o Centro Cultural Amilcar de Castro para a formação cultural dos cidadãos de todas as faixas etárias. 

No passado recente, a construção de um anfiteatro para eventos culturais, palestras, cursos, etc., em um terreno nas proximidades do campo de futebol foi ventilada pela administração passada, mas, pelo menos por hora, revelou ser apenas o que, talvez, sempre tenha sido: promessa para manter as bases políticas na órbita dos discursos vazios do poder. 

No âmbito burocrático, o município também não consegue avançar seu PMC (Plano Municipal de Cultura). Nem mesmo os nomes do atual Conselho Municipal de Cultura foram anunciados. Quem perde com tudo isso? 1) os artistas que ficam sem meios de qualificarem ainda mais seus trabalhos e apresentarem-se com constância; 2) os cidadãos que ficam sem acesso a um direito constitucional democrático fundamental: o acesso à cultura e aos bens culturais; 3) a cidade como um todo que corre o risco de perder suas tradições culturais bem como a possibilidade de suas vanguardas artísticas avançarem novos projetos. 

A Semana de Arte Moderna de 1922 completou 100 anos em 2022. Em Paraisópolis, culturalmente em que anos estamos?

Libertários