segunda-feira, 26 de abril de 2021

::: As 4 estações :::

Conversando com um amigo sobre as ruínas da Estação de Trem do Bairro de Brazópolis "Cruz Vera" colocamos a seguinte questão: o que se encontra hoje de pé estará daqui a 100 anos?

Quais construções, quais monumentos, - enquanto indivíduos organizados culturalmente - seremos capazes de erigir e manter de pé ao longo da força inexorável do tempo?

Hoje muito se fala que o velho tem que ser destruído para dar lugar ao novo. Mas este novo durará quanto? O asfalto durará mais do que os paralelepípedos? O atual calçamento do Calçadão da Rua São José durará mais do que as pedras portuguesas dispostas em complexa geometria arrancadas brutalmente?


Já ouvi até gente dizendo que o Mercado Municipal de Paraisópolis teria que ser demolido para dar lugar a algo novo. Que absurdo! Mas este novo durará quanto? Este "novo" defendido por indivíduos sem senso histórico durará mais do que o Mercado hoje existente?

Certas obras, espaços e construções não podem ser demolidos, pois tem um valor simbólico e espiritual incalculável, que não se dobra ao valor de troca monetário. Tais espaços precisam sim, é verdade, de cuidados, manutenção constante para se manterem ativos, com função social, educacional e cultural, para lembrarem a sociedade e suas gerações vindouras de sua capacidade de construir e manter obras que permanecem vivas e resistentes, ao longo das eras. Paraisópolis conseguiu preservar, por exemplo, seu Mercado, sua Estação e isso é algo muito positivo para a cidade.
Imaginemos se outras cidades tivessem feito o mesmo. Então estas estações poderiam compor um circuito cultural regional de estações, conectando artistas, artesãos, saberes. Esperamos que Brazópolis consiga recuperar sua Estação. Segundo a edição de 9 de outubro de 1909 do jornal "O Estado de S. Paulo": "prosseguem com grande atividade os trabalhos de construção do ramal férreo que a Companhia Sapucahy está construindo do Piranguinho a São José do Paraiso, passando pela Villa de Vargem Grande, no Estado de Minas. O serviço de locação já se acha no lugar denominado Vera Cruz, adiante de Vargem Grande e duas léguas em direcção a São José do Paraíso".

Destruir o legado histórico é tornarmo-nos surdos às mensagens perenes dos antepassados, é apagar por completo a memória de realizações concretas, é aceitar que o diagnóstico dos versos contundentes de Caetano não podem, daqui para a frente, serem outros: "aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína". A questão não é ser contra o futuro, nem ser conservador, mas ser a favor de um tempo que para chegar precisa vir acompanhado de suas principais realizações históricas, artísticas e arquitetônicas, caso contrário corremos o risco de nos tornarmos um povo, um país, um mundo em ruínas.
O que está de pé agora estará daqui a 100 anos como a Estação que resiste às intempéries de todas as estações climáticas e políticas?

Libertários