quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

DINDIN: “não toco por dinheiro, toco porque gosto mesmo”


por Jota Geraldo & Juliano Almeida



Na noite do dia 25 de dezembro, Rodney Oliveira, o Dindin, brilhou no palco montado na Concha Acústica da Praça Coronel José Vieira, em Paraisópolis, sul de Minas Gerais. Convidado pela banda Crime Forjado cantou "Água mineral" do compositor Carlinhos Brown, consagrando-se como um dos intérpretes mais inventivos da nova safra de músicos locais. Logo após esta apresentação histórica, o entrevistamos.

Dindin como foi cantar para Paraisópolis neste Natal?Foi eu quem pedi. O Bruno [vocalista da banda Crime Forjado] estava chamando gente para dançar no palco. Eu me ofereci e ele me perguntou se eu queria cantar. Falei que eu queria, “vamos lá nos divertir um pouco”. Então eu cantei “Água Mineral”.
Então, você se chama Rodney. Quem te colocou o apelido de Dindin?
Surgiu aqui em Paraíso. O pessoal já se acostumou. A criançada Me chama “Ô, Dindin!”. Elas gostam de mim.
Quando é seu aniversário?
Não sei. Acho que é em novembro.
E qual é o seu signo?
Cascavel. Vi em um livro lá em Campos do Jordão, onde morei muito tempo.
Você veio de lá para Paraisópolis?
Depois de Campos do Jordão, eu morei em Brazópolis também. Eu morava com meu padrasto, se chamava Paulo.  Morávamos eu, ele e minha madrasta, que também não era minha mãe. Estava adotado. Mas aí, eu fiquei com saudade da minha mãe e da minha família, aí eu vim morar pra cá. Meus pais se chamam Donizete Bernardes e Raimunda de Oliveira.
Quando você chegou em Paraíso, você já gostava de música?
Ouvindo rádio FM, a D2, descobri meu lado artístico. Tocava tom, tom [imita a batida de uma música eletrônica]. Aí, eu ficava pensando em ser cantor, artista e cheguei à conclusão de que música é importante, independente do dinheiro. Não toco por dinheiro, eu toco porque eu gosto mesmo!
Pra você, quem são os maiores cantores do Brasil?
Daniel e Zizi Possi. Eu canto música deles e de outros, faço cover. Ainda não canto músicas minhas. Aqui, em Paraisópolis eu curto a banda Look 7, eu não posso negar. Mas eu gosto das outras bandas que vêm tocar aqui.
E violão, como é que é essa história?
Ah, o violão está guardado lá no mercado, com o Tony. Eu não levo para casa porque meus irmãos quebram. Mas, no mercado, eu posso pegar a hora que eu quiser e depois guardar de novo.
E você já tem empresário?
Já, tem o Tony. Ele me ajuda bastante. Ele me deu o violão. Eu comecei a chorar e, então, ele ficou com dó e me deu o violão. Esses dias, arrebentei uma corda, mas eu toco desse jeito mesmo, dá para virar bem.
E como você organiza seu trabalho? Como é seu dia a dia?
Tem dia que eu toco, tem dia que não. Eu toco quando dá vontade. Aí, eu mando brasa. Eu revezo os ensaios no calçadão e na concha, como dá na telha. Cada dia eu faço de um jeito. Tem dia que eu uso pedestal, microfone. Eu penso com a minha cabeça: “será que com o pedestal vai ficar mais agitado?”.
Você tem vontade formar uma banda?
Não, uai. Porque eu já sou quase uma banda. É impressionante, o povo pergunta: “como é que ele sabe essa música?”, mas vem de dentro mesmo, está tudo na cabeça. O ser humano é tão inteligente, né?
E você, se considera um rapaz inteligente?
Sim, eu me considero. Sei tudo de cabeça. Eu ainda não sei ler. Escrever meu nome eu sei. Mas eu queria aprender a ler ainda. Ler é importante, né? Lá na APAE eles vão me ensinar.
Como é a APAE?
Eu vou todo dia, quando eu não estou de férias. Tem uma professora que faz a gente rir. Ela põe a música da Balada do Louco [dos Mutantes]. Eu ia cantá-la no domingo, mas ela não é muito agitada. Eu já cantei ela no Coisa e Tal. Quem me deixou foi a Letícia. Ela me chamou. Quase tropecei no violão dela [risos]. Eu estava tremendo. Ela me falou: “Olha o pé aí!”. Aí, depois de cantar, o povo aplaudiu, e ela me falou: “vai roubar meu emprego desse jeito!”. No Tartaruga's, uma vez, eu cantei rock mesmo.  Eu fico empolgado e, se deixar, é capaz de eu não parar mais, vem do espírito. Tem hora que eu penso que sou o John Lennon, mas  não consigo fazer que nem ele. Não sei como fiz naquele dia.
Você já teve uma namorada?
Em Brazópolis, cara. Mas ela nem sabe onde eu estou morando mais. Eu fui embora de lá. Ela se chamava Jéssica. Às vezes, eu lembro dela.
E a política? [risos]
Eu não gosto de política. É muito ruim, dá muita confusão isso aí. Eu não tenho nenhuma preferência política, nem aqui em Paraíso.
E o que você acha da  administração Bizarria?
Não sei.
Você acha que as pessoas têm preconceito?
Preconceito de quê? Eu gosto de cantar e não me importo com o que as pessoas falam. Eu acredito em papai-do-céu e fico pensando que vai dar tudo certo em minha vida. Eu tenho uma professora, a Ana Rosa, do Chapadinha, que costuma falar assim: “De louco, todo mundo tem um pouco”. Eu morro de dar risada.
Qual é o seu maior sonho?
É ter um som para fazer funcionar o microfone. Mas isso aí você arruma devagar.
Você não gosta de beber, não gosta de droga nenhuma.
Meu único vício é que gosto de fumar, gosto de um cigarrinho. Drogas, já experimentei, mas parei com isso faz muito tempo. Faz mal.
Você acorda e vem pra praça todo dia?
É. É aqui que eu me sinto bem.
Você tem alguma religião?
Eu sou católico. Não quero mudar pra nenhuma outra religião. Faz dois anos que eu não vou à igreja, mas é bom ir né? Eu não tenho paciência. Eu sou um cara que não tem paciência. Você fica lá na missa, aí vai dando aquele tédio. Não pode ficar conversando. Antes eu ia e ficava a missa inteira, mas agora eu não tenho mais paciência.
Rodney, para encerrar, mande seu recado.
Eu amo meu Brasil. Que o ano de 2012 seja repleto de amor e de alegria, repleto de compaixão, não usar drogas e não brigue neste ano novo. Só paz e amor.

Libertários