segunda-feira, 19 de julho de 2021

::: Paraisopolenses, uni-vos! :::

O interessante da OPIS é que ela revela a existência de um pensamento de esquerda em Paraisópolis, mesmo entre quem jamais se imaginou estar à esquerda no espectro político. Um pensamento de esquerda, adiantemos logo, não vinculado a partidos políticos, mas um profundo pensamento de esquerda que se realiza coletivamente nos atos solidários.

Os que pensam à direita são conhecidos atualmente por abraçarem o ideário neoliberal e defenderem a propriedade privada, a iniciativa individual, a abolição dos direitos trabalhistas e previdenciários, o fim dos sindicatos, a privatização dos serviços públicos. Segundo esse pensamento, saúde, educação e moradia, por exemplo, não são responsabilidade de uma forma de estado social, mas unicamente do indivíduo. Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica e símbolo desta forma de pensar dizia: “não há sociedade, só indivíduos".

Já um pensamento de esquerda, e aqui não me refiro a nenhuma organização política em específico, mas a um modo de encarar o mundo e a vida, tende a preocupar-se com o social antes do que com o individual. Segundo esta "visão de mundo" ("weltanschauung"), o estado tem um forte acento social e deve ser promotor e garantidor dos direitos sociais. A saúde, a educação, a moradia e o emprego são direitos sociais e devem ser garantidos e protegidos pelo aparato estatal.

Na OPIS algo ainda mais interessante pode ser verificado. A sociedade, o Estado na figura da Prefeitura, e os empresários se unem para um trabalho social, solidário, comunitário, fortemente coletivo.

Durante o evento, toneladas de alimentos são arrecadadas e redistribuídas, o que demonstra a operação de um princípio não apenas liberal (distributivo), mas comunista (redistributivo). O excedente dos que possuem mais vai para as mãos dos que tem pouco ou nada, eis a revelação do princípio econômico da Solidariedade.

A questão é se esse comunismo em potencial que se observa nas arrecadações de alimento, no trabalho coletivo, no trabalho feito voluntariamente e sem exploração, pode avançar para além dos três dias do evento e acontecer o ano inteiro e todos os anos.

Se essa utopia se realizar assistiríamos uma revolução em Paraisópolis e a cidade poderia dispensar a centralização do poder nos três poderes e construir uma sociedade sem desigualdades em que as pessoas se organizariam, como ensina a OPIS, desde a base. Já pensou?

“Um fantasma ronda o Paraíso – o fantasma do comunismo”.

Libertários