segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

O ano sem Carnaval & o "Bloco dos Carnavais passados"

A gente sabia que o Carnaval estava por perto
assim que a banca do Eduardo
enchia-se de purpurina,
confete & serpentina
máscaras de papelão
máscaras de borracha
de herói & de palhaço
de caveira & assombração
imagens de pierrot & columbina
apitos & martelos sonoros
A criançada sabia que o Carnaval estava por perto
quando a Prefeitura começava a enfeitar a Praça
& de longe ouvíamos o eco das escolas de samba
Rosa de Ouro, Portal das Geraes, Porta de 'Buteco'
& quando a gente via já era sexta de Carnaval
Nas matinês no Recreativo,
aberto para toda população,
marchinhas embalavam o movimento
dos trenzinhos que giravam no salão
até o intervalo quando era hora da criançada
tomar um guaraná para recarregar as energias
para mais uma hora de folia
Os meninos arteiros preparavam o tal sangue do diabo
para ser lançado sobre a camisa branca de um coitado
dando a ela um tom avermelhado, que logo desaparecia,
pois o sangue, na verdade, não existia;
os meninos eram só meninos arteiros &
o desespero das mães & das tias católicas logo se esvaia
Vou confessar que tinha medo da vaquinha do Gaúcho
(quem não tinha?),
mas que era divertido ser perseguido por uma delas isso era;
Um misto de medo & de euforia!
De todos os Zé Pereira o que mais me marcou
foi o Zé Pereira Punk 87;
Um anarquista em Paraisópolis, quem diria!?
Mas não esqueçamos da Maria Pereira
que hoje seria uma feminista pautando
questões de classe, gênero & de raça
porque a festa do Momo é sim política,
mas política feita de maneira irreverente
Quem não se lembra da polêmica "Tentação no Paraíso"?
Nos bailes à noite a gente ainda não ia;
liberdade que conquistamos ainda que tardia
"9 horas em casa", meu pai me dizia.
Quando nos demos conta éramos jovens
em blocos, em paixões de carnaval:
"mil voltas & voltas que dei,
querendo de uma vez encontrar
um alguém igual a você beleza rara",
em coreografias de axé Bahia
& mais tarde de funk carioca (!)
O que importava era cair na folia
era brincar, a libertação da fantasia.
A gente sabia que o Carnaval não estava mais por perto
quando toda aquela alegria (Democracia?)
tornava-se cinzas na quarta-feira.

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