
No Brasil, a arte - "a cultura" - historicamente se constituiu como um meio pelo qual as classes abastadas procuram se distinguir "dos de baixo". A cultura é antes de tudo, segundo Bourdieu, um signo de distinção.
Os de cima, os da "casa grande" ainda hoje se acham superiores aos pobres da "senzala", tratando-os como meros carregadores de seus "pianos", suportes para seus desejos de poder.
Mesmo nos coletivos culturais de Paraisópolis isso acontece. Muitos se esforçam para libertar a "senzala", mas no final das contas uns poucos, iludidos pelas benesses "da casa grande" traem os guerreiros e guerreiras da "senzala" e passam a frequentar um mundo ao qual não pertencem, com muita naturalidade.
Tornam-se burgueses da noite para o dia. E de dentro das salas amplas da "casa grande", da casa do senhor de engenho, passam a imitar os modos, os gestos e até as roupas dos poderosos.
A coletividade, entretanto, continua a "carregar o piano".
Quem sabe chegará o dia em que, ao invés de carregarmos o peso do piano para o senhor de engenho (que nem sabe tocá-lo direito), faremos o nosso próprio samba na senzala com piano e tudo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário