sexta-feira, 20 de março de 2015

Carta aberta ao Censor da Cultura Municipal (CCM)

Boa tarde

Voltei ao meu filme "Antropofêmera" para verificar se o personagem disse realmente "o que você disse" que ele disse. Lembra? Se não lembra reproduzo sua afirmação: "Tem uma parte que fiquei um pouco pensante... você chama os artistas paraisopolenses de "uns merdas".
Agora a surpresa depois de minha volta ao filme e de algumas pessoas a quem pedi para ver o filme avisando-as sobre sua percepção. O personagem não diz que os artistas de Paraisópolis são uns merdas! De novo: O personagem não diz que os artistas de Paraisópolis são uns merdas!

Aqui o diálogo sem nenhum corte

- O que você acha da arte hoje? 

- A arte é muito bonita, a arte é a maravilha, a arte é a sua 'fudeção' essa noite.

- O que você diz dos artistas de hoje?

- Eles são uns merdas. Só tem merda aqui.

Que estranho, o personagem não disse o que você disse... Será que quem pensa que os artistas de Paraisópolis são uns merdas, na verdade, é você? Algo inconsciente? Um ato falho? Algo que você projetou sobre o próprio filme para justificar sua censura a ele na 
Mostra organizada por você?

Nada do diálogo entre os personagens do filme remete à SUA leitura de que o personagem diz que os artistas de Paraisópolis são uns merdas. Sério: acho mesmo que essa ideia é sua e, repito, estou certo de que ela embasou a censura à obra!

Espero agora ter resolvido essa questão e que você seja humilde o suficiente para admitir que colocou "na boca do filme" algo que ele não disse! Aceito todo tipo de crítica a minha obra, mas jamais uma crítica rasteira visando colocar nela coisas que lá não estão à fim de deturpá-la socialmente e censurá-la!

Por fim, sugiro-lhe desenvolver a arte de dissociar ideias. No caso da obra em questão deixe ela ser ela mesma enquanto não tem algo de verdadeiro a dizer sobre ela ou a partir dela; e quando tiver algo para dizer - seja honesto (se for capaz) - e faça uma crítica ao que está na obra ou o que falta a ela, ou ainda ao que ela pode dar (ou não) a pensar, mas nunca manipule uma criação livre e independente para proferir inverdades sobre ela como ocorreu e, pior, com uma dupla finalidade maligna: 1) colocar pessoas admiráveis (no caso meu amigos artistas) contra um criador que jamais disse o que você disse que ele disse; 2) ter motivos (falsos) para censurar uma produção artística. 

Abraços cordiais


José Geraldo, 20 de Março de 2015


Libertários