segunda-feira, 6 de setembro de 2021

:: A verde Folha da Serra ainda vive nos corações democráticos ::

Desejo que as nuvens da tempestade de sangue que se avizinham se dissipem mais rápido do que chegaram neste ... 7 de Setembro.

Nesta noite de medo, pavor e preocupação com o destino do Brasil, com o destino de cada um dos meus familiares e amigos, lembrei-me, ou algo espectral me lembrou, para aliviar o coração em brasa que, ainda muito jovem, escrevi um texto para a Folha da Serra sobre o nosso 7 de setembro.
Naquele dia de quase Primavera, a Praça estava cheia e alegre, as crianças corriam, as meninas com seus sorvetes nos bancos balançavam as pernas, meninos cascavam o bico de alguma piada sem graça, o ipê-amarelo jorrava vitalidade, o céu estava absolutamente azul com o vento exato para os homens-pássaro mergulharem do Machadão.
Senti uma alegria indescritível e voltei correndo com essas imagens guardadas no peito. Tinha um trabalho para fazer.
A grande jornalista Sueli Goncalves, a Sula, minha primeira mestre na arte do jornalismo, chamava-me de Jota. "Muito legal Jota. Vai entrar já na próxima edição".
Mais de 20 anos se passaram e estou longe daquele jovem de 17 anos, então indeciso entre o rock e o jornalismo, a filosofia e a literatura, mas que nesta noite de trevas retorna com alguma luz e confiança. "Sim, eu estou tão cansado, mas não para dizer que não acredito mais em você", canto para ele.
Hoje, longe e perto do meu Paraíso, do nosso Paraíso, recebo a mais triste notícia para quem aprendeu desde cedo na Eulália Gomes de Oliveira os valores da Democracia.
Certos homens parecem dispostos a mergulhar nas trevas abismais de uma ditadura sanguinária.
Espero que eles despertem do pesadelo que querem nos meter ainda essa noite.
Boa noite meu Paraíso de tantos sonhos e decepções, de terríveis invernos e de primaveras coloridas e tão queridas.

"Nosso límpido céu mudou de azul para cinza"

Luto para ser otimista, mas diante de um momento histórico como o que vivemos sou tomado de pessimismo e horror perante os quais sinto, todavia, que não posso deixar me abater.

O Planeta Terra parece estar a caminho de sua total destruição pelas forças sinistras do capital, que para continuar sua marcha sobre o planeta, transforma tudo e todos em mercadoria.
Mesmo as cidades pequenas vivem situações de devastação jamais vistas.
O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) aponta um cenário muito difícil para a humanidade na Terra nas próximas décadas em razão da devastação ambiental e do aquecimento global.
Ondas de calor extremo, queimadas florestais, chuvas violentas, enchentes e pandemias serão cada vez mais constantes, ameaçando todas as formas de vida humanas e não-humanas no Sistema Terra.
Hoje uma mulher postou um vídeo com uma imagem assombrosa do incêndio no Pico dos Dias em Brazópolis. Ela resumiu perfeitamente o que tento expressar: "nossa amada cidade sofre em chamas e nosso límpido céu mudou de azul para cinza".
Os mais otimistas, a quem admiro muito, dirão que é assim mesmo, que isso faz parte da marcha inelutável da história e que, com o passar dos anos, superaremos, como sempre superamos momentos que pareciam insuperáveis, mais este momento.
Não duvido que possa ser assim mesmo, porém, sinto que não podemos assistir tudo de braços cruzados, pois, pode chegar um tempo em que a vida já não tenha mais força para avançar tamanha a destruição (climática, social, política, ética, cultural, psíquica) como observou num quadro de Paul Klee, o filósofo alemão Walter Benjamin antes de se matar quando desesperadamente fugia das terríveis falanges militares de Adolf Hitler.
"Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus.
Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente.
Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas.
O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado.
Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés.
Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las.
Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos de progresso".

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

🛹 A história do skate em Paraisópolis: uma tentativa de recuperar uma longa história 🛹

Antes de ser um esporte olímpico, o skate já fazia parte da vida de milhares de pessoas dentro e fora do Brasil. Em Paraisópolis não era diferente. Há décadas, as quatro rodinhas circulam pela cidade da ventania, dos morros e das ruas de paralelepípedo.

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Primeira geração (Anos 1980)

Minhas primeiras lembranças sobre o skate na cidade datam de meados dos anos 1980 e vêm de uma loja existente na Rua Duque de Caxias: "Porão Skate Shop".

Esta loja vendia skates, shapes, trucks, rodinhas e roupas. Dentre as marcas comercializadas na loja constavam Vision Street WearIndependentURGH! e Plancton.

A partir dos anos 80, a cultura do skate começava a formar uma identidade estruturada no Brasil e junto com ela surgia, gradativamente, uma indústria voltada à cena do skate.

Eu era bem criança e, quando ia na "Cooperativa" (atual Unissul) buscar leite, aproveitava para passar no "Porão Skate Shop". Minhas parcas moedas não eram suficientes para adquirir aqueles desejados objetos. Quem viveu esse período sabe como as coisas eram difíceis para as famílias brasileiras, situação que só começou a mudar com o surgimento do real em 1994 e da estabilização da moeda, conquistas que, hoje em dia, estão prestes a serem perdidas com a volta da inflação, dos preços galopantes, do desemprego em massa, da crise econômica e política enfim.

Certamente os primeiros "skatistas" da cidade datam do período de redemocratização em que o país saia das trevas da ditadura cívico-militar e respirava o ar da Democracia. Lembro de ter visto uma galera com seus "tubarões" na Praça da Matriz "dropando" uma rampinha feita com tapume de construção.

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 Final dos anos 80 e primeira metade dos 90 (Segunda Geração)

No final dos anos 80 e começo dos 90, conheci o Ramon. Eu morava na Alves de Lima e o Ramon na Pouso Alegre. Eu sempre colava para brincar com a "turminha da rua de baixo". Tinha o Charles, o Cleber, o Ditô (nosso mestre de artes marciais), os filhos da Maria do Bar, o Juninho Ronaldinho, o Ferrugem, o Odirlei, o Adalto neto do Ditão, o Marquinhos do Seu Antonio Pipoqueiro, o André e suas irmãs, o Wellington Nascimento ...

Futebol de campo, de salão e golzinho de caixote, capoeira (Busca longe e Baianinho), kung fu, patrulhas de escoteiros imaginários, pipas, bolinha de gude, guerra de mamona, natação na cachoeirinha, videogame atarimaster systemmega drive, bilhar, fliperama, skate e até surf de areia (!). Aquela meninada soube aproveitar a vida.

Mas falávamos do Skate. Ramon, na época, queria ser surfista e eu estava com mania com skate. Eu não tinha skate nem o Ramon prancha de surf. Era pura imaginação. Eu tinha um revista "Skatin'" e ele uma revista de surf ("Fluir"!). Ficávamos conversando sobre manobras, vendo aquelas imagens de grandes skatistas como Lincoln Ueda, Sérgio Negão e Rui Moleque, colávamos adesivos nas janelas e guarda-roupas, gravávamos fitas K7 de rock e enquanto jogávamos bola ouvíamos o Ricardão curtindo altos sons que iam do heavy metal, passando pelo trash até o death metal!

Não demorou muito e ganhamos nossos skates tubarão. O do Ramon era um verde. Eu ganhei um cinza que minha comprou na antiga Loja do Romeu. Naquela época, os skates eram pesadões, tinham biqueiras, alguns tinham protetores de truck, e também uma espécie de freio na parte traseira , etc.

A partir daí o rolê começou. Nossos treinos aconteciam na descida da Alves de Lima. Descíamos rasgando o passeio do Colégio Santa Angela. Até hoje escuto o som das rodinhas e suas bilhas (rolamento era mais caro) descendo a ladeira. Também construímos algumas rampas com tapumes, placas de compensado, madeira e pregos.

O passeio da Irmã Maria era também um ponto de encontro. Tinha um clima street e aquela antiga pichação "a geração que nos educa é a mesma que nos critica" dava um tom para nossa rebeldia pré-adolescente.

Outro point da turma era a Pracinha da Consolação. Como não havia pista na cidade nos víamos como skatistas de "street". As referências eram escassas. Ninguém tinha videocassete para acessar vídeos. Internet então só nos Jetsons. Mas ali na Consolação descíamos escadas, aventurávamos nas curvas sinuosas de suas dobras.

No começo dos anos 1990 também montamos uma oficina de skate que funcionava no porão da minha casa. Neste momento, o Marcos Silva, cuja família tinha mudado de Santo André para Paraisópolis, entrou para a turma. Como ele vinha de uma cidade grande contribuiu para ampliar nossas referências sobre o mundo do skate.

Depois a família de Ramon mudou-se da Rua Pouso Alegre e cada um daquela turma tomou um caminho que volta e meia, mesmo tanto tempo depois, se encontra ainda que para um simples "e aí", mas um "e aí" repleto de conteúdo e significado. As infinitas lembranças do período, claro, sempre emergem.

Este foi o primeiro capítulo do Skate em Paraisópolis. Estamos no início dos anos 1990. O próximo capítulo será escrito pelo encontro de figuras chave para o desenvolvimento do Skate na cidade: Ramon, Ariel, Tiago EllisVinícius PessoaGlauber, Andre Chivas, Chicletão, Rafael Andrade, etc etc.

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 Segunda metade dos ano 90 a 2004 (Terceira Geração e a Era de Ouro do skate em Paraisópolis)

O ano era 1996 ou 1997. Ariel Salobreña estava com seu segundo skate comprado na DB brinquedos em uma viagem com a família para Santos (SP).

Assim como Ramon no começo, Ariel se sentia ligado ao surfe, mas como ganhara outro skate andava às voltas com as quatro rodinhas. Seu skate não possuía lixa e tinha dentro das rodas as famigeradas bilhas.

Na época, com 11 anos, Ariel foi repreendido por um guarda da Praça Coronel José Vieira "por estar com um brinquedo de criança". O skate ainda estava muito longe de começar a ser aceito pela sociedade brasileira. Ariel perguntou-lhe se ele já tinha ouvido falar do Bob e explicou-lhe que Bob Burnquist já era adulto e com aquele "brinquedo de criança" ganhava um bom dinheiro, mostrando que poderia ser um brinquedo, mas também uma ferramenta de trabalho, de uso profissional.

Pouco tempo depois, já com o terceiro equipamento, um "Traxart", daqueles skates de nível iniciante, mas já com lixa, rolamento (uma grande evolução!), foi abordado novamente na Praça por um pessoal, agora já perguntando há quanto tempo ele andava e querendo saber do skate e, claro, o clássico "deixa eu dar uma volta". Ali estavam o Ramon Mendes e Tiago Ellis. Neste momento, começou uma amizade entre eles que dura até hoje, mas também um movimento de subcultura e, claro, de inclusão social.

Na época, eles praticavam no asfalto do Goiabal, recém-assentado e, como já era tradição, nas calçadas, lembrando o termo inglês sidewalk surfer ("surfista de calçada"). Quando velozes passavam, em razão do barulho das rodas de poliuretano sobre os irregulares pisos, estes surfistas dos passeios (como são conhecidas nossas calçadas) despertavam a atenção dos moradores da pacata cidadezinha sul mineira. Zapt!

Os picos "da antiga", como a Praça da Consolação (popularmente conhecida como pracinha do prédio Beer) e a a Praça da Igreja, não foram abandonados. Com um pouco mais de coragem e busca por aventura, rolezinhos na Praça Coronel José Vieira aconteciam até os gritos de repreensão de algum guardinha ecoarem no local.

Até que um dia, lembra Ariel, "o Ramon Mendes disse que tinha um pico novo".

Eles desceram até a velha "quadra do Pernilongão", que mais lembrava um cenário pós-apocalíptico estilo blade runner, dado o estado de abandono do local, com montes de ferragens retorcidas e enferrujadas, pedaços de alambrado pelo chão, uma trave da qual restava nada mais que uns 20 centímetros de pura ferrugem, entretanto este foi o local em que os skatistas puderam ocupar já que ninguém mais o frequentava.

Não demorou muito, lembra Ariel, e lá estavam limpando e construindo os primeiros obstáculos, até chegar ao ponto de terem uma pista com palcos, corrimões, spines e até mesmo um quarter pipe. Tudo ao melhor estilo "Do It Yourself" ("Faça você mesmo".) "Esta foi nossa nossa primeira pista, feita por nós mesmos", lembra Glauber.

Cada mergulho na memória é um mar de histórias, tão amplo e profundo que quando começamos a recuperar vem logo a pergunta: como tudo aquilo aconteceu? São inúmeras imagens, pessoas, acontecimentos que é simplesmente impossível fazer caber tudo no espaço de um texto ou de um comentário em rede social. Tiago Ellis também lembra em seu comentário da "construção da primeira pista na quadra do "Pernilongão", os primeiros obstáculos, os compensados navais que surgiram "misteriosamente", bem como os corrimãos que se assemelhavam muito com placas de trânsito". O asfalto em frente a Igreja, na sua visão também é digno de nota, bem como "o apoio dado pelo Vinícius Pessoa em forma de lanche a ser pago a prazo para a galera, a primeira OPIS de Paraisópolis com o "Show de skate", o início do sonho de ter uma pista, a miniramp em minha casa que durou um mês e por aí vai. Vida longa ao skate paraisopolense"!

Alguns anos depois, organizados de forma independente do poder institucional, os skatistas iniciaram um processo de mobilização para que a Pista Pública hoje existente se tornasse realidade. Foram anos de reuniões e protestos em frente à Prefeitura para o município executar o projeto da pista idealizado pelos próprios skatistas.

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 2005 a 2020 (Quarta geração: consolidação, articulações com a cultura Hip-Hop, evolução)

Neste período, acontece o importante encontro do Skate com a BMX. Sobre isto jovens como Matheus OliveiraCauan MadonaHolly Mota, Gabriel Faria e outros têm muito o que nos contar.

Em dezembro de 2009, o coletivo Wind BMX foi criado na cidade. Em abril de 2010, a Pista Pública sediou o evento "Wind BMX Jam #1".

No dia 12 dezembro de 2010, mais um elemento se incorporou ao Skate e à BMX. Era o RAP de Daniel Chimp que se apresentou ao lado do Síntese (SJC) e do DJ ParanaX na Pista Municipal no evento "Nóiz por Nóiz" em parceria com o Clube do Trem. Com o tempo, além do RAP, os demais elementos da cultura Hip-Hop (Break Graffiti) se uniram à família.

Alguns nomes que ampliaram a cena do skate em "Paradise City" neste período, para os quais peço para contarem como começaram a andar, os primeiros contatos com a "velha guarda", estão: Bremer Rosa, Fernando Nogueira, Iago DiasJessé Barcelos, Gabriel Lima, Daniel Nogueira, Antônio Junior, Mateus Grilo etc, etc.

Bremer conta que sua historia no skate se inicia em 2009, juntamente com William Barbosa que, na época, cursava com ele o 1º ano do ensino médio. Isso ocorreu, "logo após uma visita dos atletas da Volcom na Casa São José, numa tour em que fizeram uma sessão de autógrafos e uma "apresentação" na pista". Após esta visita, Bremer e Will ficaram pilhados com o skate e durante as aulas combinaram de começar a andar. "Nem imaginaria que levaria isso pra vida", diz Bremer que lembra, como se fosse hoje, de ter pedido para sua mãe comprar um skate usado de um "brother" de Conceição dos Ouros. "Era um skate completo da "Snoway", parecia um palito de tão fino. Até então minha família via o skate de forma marginalizada e não gostava nada de saber que eu estava me tornando um skatista, mas fui resistente", conta.

Nos primeiros dias de vida sobre as quatro rodinhas, ele ganhou um shape da "Perfect Line" do Adilio que nem o conhecia direito. "Achei muito da hora a iniciativa, o skate ultrapassa o feeling do esporte, sua cultura traz também valores nobres e positivos", reflete.

Vinicius Pessoa, Daniel Nogueira, Charli Bru, Romário Pratinha, Rômulo Lawall, Frederico (Fôrma), Edgar Barbosa e Alexandre Lopes foram as suas primeiras referências de skatistas com quem andava junto.

Paraisópolis passou também a contar com lojas especializadas no ramo do skate, primeiramente como a loja de Ariel e Ramon no "Amarelinho, no Calçadão da Rua São José, e na sequência, em 2013, com a loja Paradise Skateboards.

Antes do surgimento dessas lojas, Bremer comenta que comprar shapes era uma missão quase que impossível. Ele lembra de ir com seu amigo Will a São Bento do Sapucaí na "Kickflip", loja do Kauhan Teixeira, comprar shapes da "Juice Skateboards". "Depois houve um tempo que comprávamos nossas peças na Mattos Calçados. Acredito que com o surgimento da "Paradise Skateboards", o skate deu um boom na cidade, as amizades e a cena se fortaleceram, mantendo a velha chama acesa, o skate sincero e puro na essência".

Neste período, a cidade tem, de fato, também as primeiras mulheres praticando tanto Skate como BMX.

Em 2014, Antônio Júnior começou a desenvolver shapes artesanais. O projeto do skatista, filho de marceneiro e neto de carpinteiro, avançou e ele criou a marca "Emanueldecks", especializada em shapes.

Em fevereiro de 2016, inicia-se um diálogo entre os skatistas para a criação da Associação dos Skatistas de Paraisópolis (ASKAP).

Nesse período, com a popularização das câmeras e celulares aconteceu uma proliferação de vídeos de Skate e BMX em canais de plataformas como Youtube Vimeo. No passado, essas produções eram de difícil acesso, restritas primeiramente ao VHS e depois aos DVD's. Mais recentemente, na cena urbana, junto com os skatistas, fotógrafos e videomakers profissionais e amadores são cada vez mais presentes, registrando manobras, descidas e flips, sejam elas em ruas, rampas ou pistas.

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 2021 a ... (a quinta geração do skate paraisopolense já chegou)

No Brasil, de acordo com uma pesquisa do Datafolha, havia cerca de 4 milhões de skatistas em 2009. Seis anos depois, esse número subiu para 8,5 milhões, sendo 81% homens e 19% mulheres. É nesse cenário de popularização e transformações que se formam as atuais gerações de skatistas paraisopolenses.

A cultura do skate em Paraisópolis, sabemos, é diversa, multifacetada e permeada por muitos nomes, tantos que nem cabem neste primeiro texto. Não temos a intenção de esgotar todas as facetas e espectros da identidade do skate na cidade. O texto que tentamos por hora construir é uma primeira tentativa de reconstruir uma história que em sua essência é múltipla e plural que se faz no espaço urbano e no tempo.

Hoje podemos falar de uma quinta geração do skate paraisopolense. Alguns, inclusive, são filhos de skatistas ou de amigos de skatistas da velha escola ("old school") que por sua vez, encontra-se na ativa e luta, ao lado das novas gerações, por melhorias na pista existente e por uma pista nova com um projeto atualizado.

Com o sucesso do skate brasileiro nas Olimpíadas, oportunistas certamente tentarão pegar carona no fluxo midiático e, como sempre, tentarão atravessar o rolê e ousar falar em nome do skate e dos skatistas. Regra 1: licença pra chegar licença pra sair.

É importante conhecer e reconhecer uma longa história, de luta e resistência, de opressões e preconceitos, de derrotas e glórias, que compõem a memória de um movimento social, independente de partidos e grupos políticos, composto por múltiplos nomes e faces para quem o que importa é, antes de mais nada, a continuidade da cultura do skate que atravessa e continuará a atravessar, sempre de maneira autônoma e independente, muitas e muitas gerações afinal, como lembra o Pessoa, "skatistas são irmãos vindo de pais diferentes!".

Certamente, toda ajuda e incentivo do poder público é sempre fundamental, mas isso passa, antes de mais nada, pela instauração de um diálogo democrático com os nomes que ajudaram ativamente a elevar o skate de Paraisópolis de um "brinquedo" marginalizado até um nível profissional, sem jamais esquecer a dimensão da diversão e da inclusão social.

Além de esporte, skate é uma forma de ver e viver o mundo. É uma cultura urbana, uma identidade e um estilo de vida. Há décadas, o skate vem ensinando gerações a se relacionar e interagir com a cidade de uma maneira criativa.

Vida longa ao Skate paraisopolenses!

Observação: Peço a quem tiver memórias sobre a história do skate e da bmx na cidade que poste nos comentários que irei atualizando.

Libertários